
O Site O Globo entrevistou ninguém mais ninguém menos que Dacre Stocker, bisneto de Bram Stocker;.
RIO - Nem o próprio Bram Stoker imaginaria que seu Drácula teria, na vida real, tanta longevidade quanto na ficção. Criado em 1897 no livro que levava seu nome, o vampiro estará presente - na "Sexta-feira 13 na Bienal do Livro", no Salão de Ideias, entre os debates que movimentarão o primeiro dia em que os portões do Palácio de Exposições do Parque Anhembi serão abertos ao público.
Quem dará vez e voz à criatura será Dacre Stoker, sobrinho-bisneto do escritor irlandês, que acaba de ressuscitar o personagem em "Drácula - O morto-vivo", escrito com Ian Holt, especialista no assunto. Nascido no Canadá, Dacre mora atualmente com a mulher e dois filhos na Carolina do Sul, nos EUA, de onde respondeu às perguntas do GLOBO por e-mail.
Quando você passou a dar importância para os livros de seu tio-bisavô?
DACRE STOKER: Eu tinha 12 ou 13 anos quando comecei a me dar conta do impacto do trabalho dele na literatura e na cultura popular em geral. Mas só li aos 18.
Como fãs tratam o mito Bram Stoker?
Foi interessante crescer tendo o sobrenome Stoker, especialmente no Halloween. Sempre alguém fazia conexões entre Bram Stoker e a nossa família. Era muito engraçado quando as pessoas se perguntavam se seria seguro vir até a nossa casa pedir balas. Algumas pessoas imaginavam que éramos vampiros de verdade. Mas sempre houve mais frenesi por conta dos vampiros e dos astros de cinema que atuavam como vampiros do que em relação ao homem que criou o Drácula da literatura.
Qual a principal diferença que você nota entre a vampiromania atual e o personagem criado por seu parente?
Os vampiros atuais são todos lindos e sexies. O de Bram não tinha o intuito de ser belo, era um ser que estava debaixo da terra, saiu do seu túmulo. Os vampiros se tornaram bonitos a partir da década de 30, quando Drácula virou uma peça de teatro e Bela Lugosi combinou as características sinistras do personagem original com uma nova atitude aristocrática. Mas existem muitos pontos em comum entre o vampiro de Bram e os da ficção atual. Os novos seguem a mesma "cartilha", resultado de uma pesquisa que Bram realizou em livros de História e folclore da época: vampiros precisam beber sangue para sobreviver, são repelidos pela luz, não têm reflexo no espelho e, para morrer, precisam receber uma estaca no coração.
Qual a importância de Ian Holt, um especialista em Drácula, na recriação do personagem?
Holt teve a ideia de modernizar o Drácula a partir de estudos sobre o príncipe Vlad Dracula, o personagem que deu origem a todos os outros e só se tornou mais conhecido do público a partir da década de 70. Ian criou um personagem que misturou o Conde Drácula da ficção com o histórico Príncipe Drácula. No livro de Bram, o Conde Drácula tem uma presença forte, mas quase não participa de diálogos. O que sabemos sobre ele vem dos outros personagens. Pensamos, então, em dar voz ao Drácula e contar a versão dele da história.
Tem alguma preferência (ou definição) quanto à direção e aos atores que estariam no filme originado de seu livro?
O diretor Guy Ritchie seria uma boa escolha para dirigir "Drácula - O morto-vivo". Ele fez um ótimo trabalho na direção de "Sherlock Holmes", e as histórias se passam na mesma época. Gary Oldman seria um ator interessante para voltar a representar o Drácula. Colin Farell poderia ser um bom nome para o papel de Quincey.
Qual o mérito que o seu livro tem em relação aos novos títulos sobre vampiros?
"Drácula - O morto-vivo" é a continuação de uma história que envolve personagens muito complexos e interessantes. A narrativa é passada em 1912, 25 anos após o término da história original de Bram Stoker. Nossa história é uma forma de reconectar os leitores ao Drácula original, a partir das pesquisas e anotações que Bram fez. Escrevemos num estilo mais moderno, recheado de cenas de ação, violência, horror, como os livros de hoje são. Mas, por outro lado, não é preciso ter lido o Drácula original para entender e gostar.
Fonte: O Globo