James Comtois, um dramaturgo de 33 anos, tem doces lembranças de seus pais o levando para ver a produção Delicate Balance, de Edward Albee, mas se você quiser saber o que realmente fez com que ele se interessasse em escrever, retorne ao momento em que ele conheceu Freddy Krueger.
Quando ele tinha em torno de 10 anos, a ideia de que o monstro em A Hora do Pesadelo matava as pessoas em seus sonhos despertou sua imaginação de uma forma que ele hoje chama de formativa. E isso fez com que ele buscasse por entretenimento ainda mais assustador e intenso, nenhum deles mais memorável do que o original O Massacre da Serra Elétrica.
"Num nível intelectual, ele tem um ponto de vista muito moral e poderoso", ele disse do filme de 1974, falando no tom de reverência que aspirantes a compositor de musicais usam quando falam de Stephen Sondheim. "É um filme de terror incrivelmente visceral, mas também é esse retrato muito preciso da nossa cultura. Ele tem muita sutileza."
Ele estava sentado em um restaurante em Midtown alguns dias antes de sua nova peça, The Little One, estrear no Kraine Theater. Como um dramaturgo cuja educação artística incluiu filmes de terror, Comtois tem a companhia de alguns dos atuais nomes de sucesso do teatro -incluindo Conor McPherson e Tracy Letts, vencedor do Pulitzer que também é admirador de O Massacre da Serra Elétrica.
Embora os filmes de terror costumassem ser considerados meramente entretenimento das massas, as gerações mais jovens que cresceram com A Noite do Terror e O Exorcista estão perfeitamente dispostas a levar um vampiro a sério. É por isso que uma nova onda de peças assustadoras é tão intrigante: o teatro contemporâneo pode estar desenvolvendo seu próprio gênero de terror.
O maior sucesso, até agora, é do exterior: Ghost Stories, um terror gótico cheio de reviravoltas de Jeremy Dyson e Andy Nyman, que iniciou suas apresentações em West End, Londres, na sexta-feira, após uma boa temporada em teatros ingleses menores. Nyman estrela como um cético especialista em parapsicologia, que conta ao público algumas das histórias estranhas de sua pesquisa.
Através de um marketing habilidoso, que misturou uma campanha online sofisticada com truques antigos ("Nós aconselhamos fortemente que aqueles com pré-disposição nervosa pensem muito seriamente antes de comparecer"), o show se tornou um sucesso, ganhando comparações com outra bem-sucedida peça de terror em Londres, The Woman in Black, que ainda atrai multidões após 23 anos.
Pegando carona na onda de interesse em Crepúsculo e True Blood, duas peças de vampiro estrearam no circuito de pequenos teatros de Nova York, o Off-off-Broadway, na semana passada, incluindo uma remontagem de St. Nicholas, de McPherson, um monólogo sobre o encontro de um crítico de teatro com um vampiro. Little One, de Comtois, tem raízes mais firmes no sobrenatural, contando a história de um vampiro iniciante que aprende sobre clemência, boas maneiras, e a arte de "caçar" com um mentor mais velho. Comtois se concentra nos temas de morte e decadência bem como nos desafios de relacionamento impostos pela imortalidade em sua história sangrenta. Atravessando séculos, ele tem o objetivo de assustar apresentando seus vampiros com um realismo não sentimental, que os faz parecer quase humanos, sem atenuar a brutalidade e violência.
Claro que não seria difícil mapear uma história do teatro alternativa, na qual o terror, amplamente definido, sempre esteve presente, da tragédia grega ao melodrama jacobino, do Grand Guignol às peças ameaçadoras de Harold Pinter.
Contudo, os filmes de terror de hoje se apoiam no realismo intenso -muitas vezes sangrento- mais pesadamente do que nunca. Ao tentar se igualar à intensidade do cinema, a nova leva de peças faz uma pergunta crucial: o teatro ao vivo pode assustar o público da mesma forma?
Artistas do teatro ficam divididos quando discutem sobre como lidar com a violência no palco. A maioria dos escritores simplesmente rejeita o naturalismo rígido e desnuda suas produções limitando-se ao essencial. St. Nicholas e The Pumpkin Pie Show, uma apresentação anual de histórias góticas de Clay McLeod Chapman, são construídas em torno de monólogos fantasmagóricos e diálogo afiado num palco vazio. "As histórias que eu ouvia em torno da fogueira quando criança me assustavam principalmente porque elas mexiam com a imaginação", Chapman disse. "O teatro deve explorar o que faz melhor. Quero que ele seja íntimo e simples. Assim que acontece um efeito especial, passo a procurar por polias e cabos, e me perco."
Como Jordan Roth, presidente do Jujamcyn Theaters, grupo com as maiores casas da Broadway, observou, "se os efeitos especiais não forem verossímeis, o terror rapidamente se torna ridículo."
Anne Washburn (Trama Internacional) não se considera uma escritora de terror, mas admite que seu trabalho é inspirado no gênero. Ela considera Alien o "filme perfeito" e "alta arte". Sua tentativa mais direta de colocar o assustador sobrenatural no palco foi Apparition, uma produção sombria de 2005 que mostrava um demônio, interpretado por T. Ryder Smith, que fala sobre comer um bebê. O que fica na sua cabeça, não é nenhum solavanco repentino nem uma imagem, mas sim "nhoc, nhoc, nhoc".
"O terror", Washburn explicou, "envolve o que você não pode ver."
Nem todos concordam. Outro grupo de artistas de teatro firmemente acredita que qualquer coisa em filme pode ser traduzida para o palco, com criatividade suficiente. Enquanto Ghost Stories parte de um monólogo simples sob o holofote, a produção de US$ 500 mil de Nyman também tem sua parcela de efeitos especiais elaborados.
E com uma fração desse orçamento, The Little One não se esquiva do sangue. "Quando vemos alguém ser cortado no palco", Comtois disse, "existe algo chocante e estremecedor."
Qui Nguyen é o diretor de lutas para The Little One e o diretor artístico da Vampire Comboys, uma companhia popular conhecida por suas peças cheias de ação, com alguns combates por vezes assustadores, e frequentemente rústicos. "O ímpeto do que eu faço no palco veio da minha pós-graduação, quando os professores me diziam que o teatro é bom para narrar, não mostrar", Nguyen disse. "Não! Não! Não! Podemos trabalhar a imaginação para preencher as lacunas, mas também podemos mostrar."
O futuro do terror no palco pode estar na multimídia; alguns dos trabalhos mais interessantes estão sendo feitos pela Temporary Distortion, cujo show de sucesso ano passado, Americana Kamikaze, prestava uma homenagem aos filmes de terror japoneses. Ele não era simples nem sangrento. Ao invés disso, a encenação de Kenneth Collins era uma justaposição de monólogos em que atores rígidos e imóveis falavam diretamente ao público, com vídeos elegantes que mostravam a violência horrível em detalhes pesados. Sua solução inteligente foi, de fato, deixar a parte suja para o vídeo.
¿Você não pode morrer no palco", disse o designer de vídeo do show, William Cusick, outro grande fã do gênero. "O público vai pensar, 'ele está morrendo bem mesmo.'" Cusick começou no teatro de Nova York como um assistente de iluminação em Bug, de Letts, uma peça que muitos jovens artistas de terror citam como um exemplo de que os sustos no palco podem decididamente ser tão intensos quanto os sustos na tela.
Contudo, a adaptação para o cinema de 2006, dirigida por William Friedkin, que também fez O Exorcista, foi um fracasso. "O elemento claustrofóbico da peça a torna muito mais aterrorizante e intensa", Comtois disse.
Nenhuma dessas tentativas de terror no palco, no entanto, foram vistas em grandes casas da Broadway ou off-Broadway, onde as peças de gênero são consideradas um risco. "Se você escreve uma peça de gênero, você se arrisca a não ser levado a sério", Letts disse.
Mas à medida que artistas e dirigentes que cresceram admirando filmes de terror assumem o lugar da geração mais velha, isso provavelmente vai mudar. Peças de terror deverão se tornar mais comuns. Isso significa que uma adaptação de, digamos, Crepúsculo pode funcionar na Broadway? "Com certeza", Roth disse.
Fonte: The New York Times